sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Inverno de faz-de-conta

Há duas semanas pude dar um grito de guerra há muuuito planejado: Xô, xô, xô, verão!!! Ao menos dentro de casa, entenda-se sala/cozinha e quarto, calorão não tem mais vez! E no mesmo dia em que o santo e abençoado split foi instalado, tratamos de brincar com as coisas tããão boas do inverno. Com a temperatura programada em 18/20 graus, a vida voltou a ter paz e as curtições do frio pularam loguinho da gaveta das vontades reprimidas há meses. A primeira delas não poderia ser outra senão o bom e velho ritual de botar a mão na massa e na coleção de cortadores para uma bela fornada de biscoitos.

Também não teria melhor cúmplice para tornar real esse clima de mentirinha do que meu fiel ajudante biscoiteiro. Bruno apostou desde o primeiro momento que a receita escolhida não daria certo. Sob minhas vaias e insistência, levamos o projeto adiante. Desde o Natal, namorava a lindeza dos biscoitos da Paula (veja aqui) e queria porque queria experimentar a novidade de vitrificar com balas. Tudo ia bem até o probleminha técnico que pôs tudo a perder: faltava a placa de silicone (silpat) para assar os biscoitos e a bala derretida não grudar na fôrma. Moral da história: o aprendiz superou a mestra e, derrotada, salvei um único coração e cortamos o restante da massa da maneira de sempre, em peixinhos, borboletas, ursinhos...


Se aqui dentro nem o forno aceso incomoda, quando lá fora o Sol inclemente torra grama, flores e a pele em minutinhos de exposição, o milagre vai rendendo mais e mais. Dá até para buscar a sacola das lãs e ensaiar uns pontinhos.
É bom treinar mesmo. Na casa ao lado, pezinhos cor-de-rosa, a imagem da graça, precisarão de sapatinhos quentes quando o inverno de verdade chegar.


Uma fadinha valente trouxe à luz Mariana e nossos corações se aqueceram de tanta ternura... Que muitos e muitos faz-de-conta iluminem nossa história, Mari! Amém.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Para marcar o ano com arte e amizade

Meu fevereiro ganhou uma companhia muito especial: Frida Kahlo, que divide comigo um pedaço relevante da sua e da minha história. Nós duas contraímos poliomielite na infância. É interessante como o sofrimento "compartilhado" cria uma cumplicidade estranha. Saber que vivemos situações semelhantes, por si só, gera tamanha proximidade, que basta ver sua imagem para perceber uma compreensão profunda no seu olhar. Sei que ela conhece a zona de desconforto que os diferentes experimentam com os dois pés conforme precisam caminhar pela vida, muito mais nos primeiros passos. Sei também que sublimamos muito da nossa limitação nos fixando nas borboletas. Se ela estampou uma revoada delas no gesso que cobriu seu corpo depois que o destino dobrou sua dor (o terrível acidente que a sequelou para sempre), na falta do brilhantismo do seu talento, também eu sigo perseguindo as criaturinhas aladas fotografando-as, observando-as nos detalhes, explorando-as ao máximo nas manualidades, muito antes de invadirem a moda e o gosto popular.

Sim, Frida, "para que preciso de pés, se tenho asas para voar..." Esse é o mantra que salva da amargura. Nem sempre na ponta da língua, mas sempre à disposição num cantinho da alma quando o "bicho pega".
O belíssimo calendário é presente de outra mulher forte, sensível e sábia, também dona de um território de arte fértil. E porque os afins acabam por se encontrar, assim que organizei as fotos, me encantei em ver a linha das afinidades registrada no concreto.
Anelise também ama as borboletas.

Talvez também encontre nelas a porta de saída para essa realidade paralela que nos ampara para viver com mais atenção. Como disse tão bem a Jô, do Arte Amiga, "a gente precisa sair do automático para aproveitar nossos dias". A arte é aliada fiel nessa empreitada, não tenho dúvidas. E também para nos conectar com a espiritualidade genuína, independente das crenças ou religiões.


Obrigada, Ane! O cartão também vai para a parede com a proposta de treino diário.

A cada novo mês, assim que virar a folhinha, mostrarei para os amigos do Amém.

Que a beleza deixe suas marcas no nosso tempo. Amém.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Mandala no banquinho e algumas lições

Lembram dos snowflakes da minha árvore de Natal? Pois é, gostei tanto deles, que resisti a guardá-los junto com as bolinhas e outros enfeites e fiquei à espera de uma boa ideia para reutilizá-los. Há semanas, talvez por invejar as nevascas do hemisfério norte, lembrei deles e se acendeu a luzinha aquela que nos move nas manualidades. Mas, como quase sempre, faltava material e tempo para testar o projetinho.


Consegui finalmente por a ideia em prática na quinta-feira, apesar do dia tórrido. Mais uma vez peguei carona com Bruno, que desde a experiência com a tinta spray, parece ter-se tornado um apaixonado por grafite.

Começamos preparando a peça escolhida para cobaia, um banco bem velhinho. Pintamos os pés de branco e o assento, de azul, tudo com "sprayzadas" descompromissadas, com a intenção de conseguir um resultado mais rústico. Como a tinta seca rápido, minutos depois centralizei a mandala na superfície, ainda um pouquinho de nada úmida, o que ajudou a fixar levemente o recorte de papel.



Com pequenos jatos de tinta de branca, cobri o centro e fui esfumaçando para as bordas. Daí foi só segurar nossa ansiedade e aguardar uns minutinhos para retirar a máscara (com pinça) e ver a mágica.



O efeito positivo-negativo sempre me encanta, e dessa vez não foi diferente. Gostei também dos pontinhos mais carregados de tinta, resultado da falta de jeito com o spray. Parecem estrelinhas, não? O sombreado de algumas áreas acontece quando o estêncil não fica bem fixado, mas isso não me incomodou. O resultado surpresa é uma curtição, sem falar que é um treino bacana para os controladores aprenderem a deixar a coisa acontecer de maneira espontânea.



O trabalho é muito fácil, bem de acordo com a paciência que anda curta nesses dias beirando 40 graus nesse Estado tão badalado pelo inverno. Castigada pela ressaca do verão, estranho pensar que para muitos o calor é combustível para a folia de Carnaval. Não só para os foliões e amantes da estação do sol, também na natureza, a seca e as altas temperaturas são fermento para algumas espécies. A bougainvillea na frente de casa é exemplo vivo e muito colorido de que todos os tempos guardam suas belezas. Tento assimilar a lição.



Esta rainha forte (seria de Ouros, Cacau?), que chegou aqui bebê, em poucos anos entrelaçou-se de tal modo no antigo pinheiro, que acabou por roubar-lhe a vida. Faltou dar-lhe limites, eu sei, e também essa é característica a ser melhor trabalhada. Lamento por ele, plantado pelo sogro que também já se foi há mais de 30 anos, mas...



... não posso negar o deslumbramento que sua majestade me contempla da manhã à noitinha com seu maciço de flores "cor-de-maravilha" sempre ao alcance do meu olhar. Um cenário exuberante para a janela da sala/cozinha, reduto onde passo a maior parte das horas dessa vida doméstica intensificada pela mudança de rotina desde a "aposentadoria" e a vinda da mãe para nossa casa.

Que tenhamos olhos espertos, bem abertos, para os tantos recados que o cotidiano nos oferece. Amém.