segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A lição dos ladrilhos

Há mais de um ano, estive em Bento Gonçalves, RS, em férias de 24 horas deliciosas com a amiga Jane. Percorremos os Caminhos de Pedra, visitamos vinícolas e outras atrações turísticas, mas fiquei com um gostinho de frustração por não ter encontrado o dono da casa que mais me chamou a atenção com sua pequena placa anunciando: "Faço ladrilhos hidráulicos".
Neste final de ano, marido e eu resolvemos mudar o roteiro e nos refugiar do agito dessa data que não é minha praia subindo à região italiana da serra. Enquanto multidões se dirigiam ao litoral, as estradas que levam aos vinhedos eram nossas quase que com exclusividade (de vez em quando é bom andar na contramão das convenções). E voltei então à rota turística dos casarões de pedra, com direito na primeira parada a almoço típico italiano numa construção igualmente típica.

Um cardápio que promete...
e cumpre na entrada, diferente e muito saborosa (recheio de capelletti servido como pastinha para acompanhar os pães)...
passando aos pratos principais, com destaque merecidíssimo aos nhoques leves que derretem na boca...
e chegando ao grand finale com louvor: sagu de vinho, digno de ser servido a Baco, que não tenho dúvida, comeria ajoelhado. (rs)
E seguimos em frente, rastreando as fachadas do Distrito de São Pedro, em busca da plaquinha inesquecível. Não demoramos a encontrá-la, desta vez, viva!, com seu personagem principal descansando na frente da casa. Nos fundos, avista-se logo o casarão antigo, onde tudo acontece.
Recepcionados pelo entusiasmado artesão, entro no seu ateliê com os olhos arregalados pela curiosidade. E não é para menos! Em cada metro quadrado da construção centenária, os ladrilhos brilham em beleza.
Perco o constragimento e desfio peguntas, até que seu Sérgio nos convida a irmos para os fundos, onde cria as peças.

A matriz, em ferro, recebe camadas de cimento, a primeira com as cores pigmentadas com Pó Xadrez, explica ele. Depois, é prensado.
Um por um, os ladrilhos vão nascendo em diferentes padronagens, tons, em horas de trabalho minucioso...
... alguns conjugando grafismos e arabescos em lindos tapetes.
Ao me despedir do talentoso artesão - que desenvolve sua arte nas horas de folga, já que o sustento maior vem do seu primeiro ofício, o de pedreiro - tinha duas peças embrulhadas embaixo do braço (para testar na construção dos fundos de casa) e a alma atiçada. Um contentamento meio desproporcional, que só mais tarde desvendaria. Era a dosagem extra de endorfina que a persistência nos presenteia quando finalmente conquistamos um sonhozão ou sonhozinho, não importa o tamanho. A grandeza é nós que estabelecemos, ainda que ninguém em volta possa entender, o que também não importa, não é mesmo?
E o ano que logo ali nasceria já mostrava sua cara, insinuando que persistir deve ser verbo bem exercitado em 2011. Que a exemplo do seu Sérgio, não me falte motivação e disciplina para seguir buscando o que traz alegria verdadeira. Amém!
Contatos com seu Sérgio Viecili podem ser feitos pelo e-mail: sergioladrilho@yahoo.com.br