terça-feira, 1 de junho de 2010

Escrito nas estrelas

"Quando era menina, os melhores dias eram aqueles em que por algum motivo justificável podia faltar à aula e ficar em casa. Era uma casa muito simples, mas simples também eram minhas necessidades: quintal com abacateiro, um pequeno quarto só meu, com cortina no lugar da porta, e uma cozinha com chão de cimento queimado vermelho lustrado com cera. Tive poliomielite quando bebê que deixou sequelas e dificuldades para me locomover. Então, quando a alegria dos vizinhos era brincar na rua ao Sol, a minha explodia em dias de chuva, costurando roupinhas de boneca, brincando de casinha, ajudando a preparar o bolo para o café da tarde, relendo contos de fadas, abrigada e resguardada na minha acolhedora casa. Essa é a matriz da vivência com a minha casa de hoje, um útero onde crio, trabalho, protejo, me realimento de ideias e projetos, celebro a cor nova da parede e as petúnias em flor na janela. Um reduto para fortalecer o que aprovo em mim e trabalhar as dificuldades. Meu espelho em cada canto que adoro dividir com aqueles a quem quero bem. Um espaço sagrado, amém." Hoje sei, porque acredito como nunca nos movimentos invisíveis que guiam nossa trajetória: estava escrito nas estrelas que este texto digitado com uma dose de timidez e outra de entusiasmo no meu debut na vida blogueira, para participar de uma primeira promoção, um atrevimento para quem mal sabia postar um comentário, juntaria dois pontinhos no universo, numa linha reta e certeira.
E como o tema era casa, seguiu ele nos norteando nos nossos espaços virtuais, esboçando e revelando nossa personalidade, como todo ninho faz. Então, depois de nos descobrirmos um capítulo de cada vez, chegou a hora de um passo maior. E
lá fui eu... para um abraço no Espírito Santo. E agora... oba, lá vem ela! E os dias de espera ganham uma alegria com uma ginga incomum, em estilo adolescente que traz até Jorge Ben Jor para perto. Lá vem a conhecer a casa que há um ano lhe apresentei numa singela descrição. E a casa se mexe e se ajeita para recebê-la, num suave mutirão. (Essa rima tá parecendo refrão, mas não é essa a intenção, não...rsrs)
Faxino o quartinho da bagunça com o sobrinho Bruno, meu ajudante mirim ordeiro por natureza, e ele começa a ganhar cara de quarto de hóspede.
Desengaveto e penduro as bandeirinhas budistas há tanto tempo engavetadas, o quadro irmão de um que encontrei na casa dela, os "santinhos" emoldurados...
e a canga que finalmente ganhou o lugar para onde foi destinada na hora da sua compra, há alguns verões.
Mas como tudo tem seu tempo, talvez as deusas indianas esperassem uma outra para dividir as atenções do quarto, que chegou de presente no aniversário saudando o deus que habita em mim e em você.
Na cozinha, salvo e escondo num cantinho da geladeira algumas trufas de manga e maracujá, produção do filho para evento no fim de semana, imaginando que desse gosto ela pode gostar.
E no jardim, posiciono e oriento o povo miúdo, na subida da escada, para recebê-la com música, afinal a moça é violinista.
Os preparativos seguem nessa casa de sincretismo religioso, e sob a benção das cartas do tarô, das preces e mantras budistas que balançam ao vento, do feminino hindu e católico pelas paredes e dos elementais, o ninho vibra renovado à espera da amiga querida que vem de longe, mas que já está aqui, bem perto, já faz tempo.
E para fechar a salada musical, palavras sábias de Martinho da Vila, que me surpreenderam na busca rápida pelo Google:
Deus está em todo lugar. Nas mãos que criam, nas bocas que cantam, nos corpos que dançam, nas relações amorosas, no lazer sadio, no trabalho honesto.
Onde está Deus? - Em todo lugar! Olorum, Jeová, Oxalá, Alah, N`Zambi. . . Jesus!
(Sincretismo Religioso - Martinho da Vila)
Amém!